Intromissão dos familiares, falta de comunicação, incompatibilidade na rotina, ciúmes e insegurança.
Muitos são os problemas que podem surgir durante um namoro, certo? E as limitações físicas de cada pessoa não deve ser um fator para determinar o andamento dos relacionamentos.
Já dizia o poeta francês Gautier “amar é admirar com o coração”.
Para Thais, que tem nível de amputação transtibial e há 3 anos namora com Alyson, a ausência de um membro nunca foi um problema. “Quando minha amiga sugeriu que a gente saísse, pedi para avisar da amputação. Até brinquei com o pessoal quando a gente saiu, que estava de saia pra já mostrar que faltava um pedacinho”, relembra com bom humor.
NAMORO E AMPUTAÇÃO
Não ter vergonha de falar sobre as diferenças físicas ou das possíveis limitações é um dos primeiros passos para alcançar um relacionamento amoroso saudável.
E saber lidar com a curiosidade também é outra atitude importantíssima. “Uma das primeiras coisas que ele me perguntou foi o que tinha acontecido com minha perninha. Tudo bem tranquilo, sem problema algum. Ele tinha curiosidade, mas sempre foi muito gentil”, afirma Thais.
“Um relacionamento envolve muito mais do que as questões físicas, acho que é uma compatibilidade de almas e de pensamento. A ausência de um membro não interfere nessa parte”, declara a paratleta.
Ou pelo menos não deveria interferir. Mas, de acordo com uma pesquisa realizada pela ONG Scope do Reino Unido, apenas 7% das pessoas entrevistadas já haviam namorado alguém com algum tipo de deficiência, seja ela visual, auditiva, mental ou física.
COMO VENCER A INSEGURANÇA DA AMPUTAÇÃO NO NAMORO?
Superar os desafios psicológicos pós amputação é um verdadeiro desafio, mas é essencial para ajudar o amputado a se expressar em um mundo com pouca acessibilidade como o nosso.
Apesar das dificuldades, no amor nada é impossível. E o relacionamento entre duas pessoas, amputada ou não, sempre traz bagagens de ambas as partes.
“Todo mundo carrega consigo suas deficiências nos mais diversos campos. A minha é uma deficiência física, já de outra pessoa pode ser deficiência emocional, e no fim a gente sempre adapta. Acho que na vida o primeiro passo é a gente se aceitar da forma que a gente é. Estar sempre da melhor forma possível. Mesmo com uma perna à menos, procuro crescer e fazer coisas novas. Não podemos travar por causa de uma deficiência. Somos mais do que a aparência física”, diz Thais.
Além de trabalhar a autoestima do amputado através da psicoterapia, que independentemente do nível de amputação – seja de membros superiores ou inferiores, como desarticulação de quadril ou joelho, transfemoral e transtibial – estará afetado emocionalmente, outro lado que precisa ser conscientizado é dos não-deficientes, que na maioria dos casos não sabem como lidar com amputados.
“Você gosta de uma pessoa pela pessoa que ela é, pela alma e pelo pensamento, não pela quantidade de membros que ela tem. Perna e braço você consegue comprar outro, mas o coração de ninguém está à venda”, conclui Alyson.
Para ele, a questão é dar chances para o desconhecido. “Você descobre que não tem nada de diferente, é completamente normal, a gente sai, se diverte, brinca, assiste filme junto. Se deixem experimentar”, aconselha o namorado de Thais.
A mensagem que a paratleta deixa para aqueles amputados que se sentem inseguros no campo amoroso, é que não tenham medo. “Experimente, mergulhe de cabeça e não temam. Exponha suas limitações e deixe a outra pessoa fazer parte da sua vida. Tem uma série de coisas que vocês podem compartilhar juntos”, diz.
“Se arrisquem e se apaixonem. A deficiência física faz parte da nossa vida e assim como a gente se adapta em todos os campos, nos relacionamentos não é diferente”, finaliza Thais.
“Confie em si próprio e na sua essência, porque uma amputação não te faz inferior a ninguém, nem menos belo. A beleza de uma pessoa não se resume à um braço e uma perna. Tenha gratidão pela vida, amor no coração e coisas boas virão naturalmente. Ah, e se alguém te fizer se sentir inferior por causa de uma deficiência, passa para o(a) próximo(a) porque esse(a) não te merece”, completa.